Louis Ferdinand Cruls

Louis Ferdinand Cruls nasceu em Diest, na Bélgica, em 21 de janeiro de 1848, filho do engenheiro-civil Philippe Augustin Guillaume Cruls e Anne Elizabeth Jordens. De 1863 a 1868, frequentou a Escola de Engenharia Civil da Universidade de Gent e, em 1872, foi admitido como aspirante à engenharia mili...

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Publié: 2022
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Résumé:Louis Ferdinand Cruls nasceu em Diest, na Bélgica, em 21 de janeiro de 1848, filho do engenheiro-civil Philippe Augustin Guillaume Cruls e Anne Elizabeth Jordens. De 1863 a 1868, frequentou a Escola de Engenharia Civil da Universidade de Gent e, em 1872, foi admitido como aspirante à engenharia militar. Após 2 anos de serviços prestados ao exército de seu país, Cruls pediu demissão e decidiu visitar o Brasil, apenas por curiosidade, mas influenciado pelos brasileiros que, na época, estudavam na Bélgica. Na viagem ao Brasil, fez amizade com Joaquim Nabuco, que iniciava sua carreira diplomática e regressava de uma viagem pela Europa. A permanência de Luiz Cruls no país deveu-se às amizades que fez durante a viagem e ao chegar ao Brasil com o próprio Joaquim Nabuco e com o imperador D. Pedro II. Em conversa com Nabuco, Cruls explicou-lhe que se dirigia ao Brasil por influência de um dos seus compatriotas, o engenheiro Caetano Furquim de Almeida, o qual conhecera em Gand, no tempo em que ambos frequentavam a Escola de Engenharia Civil. Nabuco ofereceu-se para colaborar, afirmando que tudo faria pela permanência de Cruls no Brasil, pois existia um vasto campo aberto à iniciativa de todas as espécies, principalmente as voltadas à geodésia e astronomia, algumas das ciências preferidas do Imperador. Contudo, devido a um desencontro de datas, Luiz Cruls não conseguiu se encontrar com Furquim, que estava no Rio Grande do Sul, ocupando-se como engenheiro da construção de uma estrada de ferro. Foi um contratempo com o qual não contava. Devido à intervenção e ajuda de Joaquim Nabuco, Luiz Cruls foi acolhido por várias famílias cariocas e recebido pelo próprio imperador D. Pedro II, com a tão natural amabilidade que era oferecida aos convidados das recepções no Paço de São Cristóvão. Mais tarde, Joaquim Nabuco apresentou Cruls ao engenheiro Buarque de Macedo, detentor do cargo de Diretor-Geral no Ministério dos Trabalhos Públicos. Em 1874, Buarque de Macedo nomeou o engenheiro civil Luiz Cruls membro da Comissão da Carta Geral do Império e Levantamento do Município Neutro. Desta forma, teve início a carreira de Cruls no Brasil. Em abril de 1875, uma pesquisa com fins astronômicos e geodésicos, publicada em Gand, deu a Cruls os títulos necessários para que se tornasse membro do então Imperial Observatório do Rio de Janeiro, no morro do Castelo. Em fevereiro de 1876, Cruls foi admitido como astrônomo adjunto. Em 1878, ocasião do trânsito de Mercúrio pelo disco solar, Cruls apresentou à Academia de Ciências de Paris um artigo sobre os diâmetros do Sol e de Mercúrio. Publicou também uma memória sobre as manchas e a duração do movimento de rotação de Marte, trabalho que o imortalizou, o qual permitiu que uma das crateras da Lua e outra de Marte fossem batizadas com o nome dele . Cruls dedicava-se a estudar sobre cometas, eclipses, asteroides e estrelas duplas. Em 1881, com o afastamento de Emmanuel Liais da direção do Observatório, Luiz Cruls foi nomeado interinamente para substituí-lo. Em fevereiro do mesmo ano, foi naturalizado brasileiro e teve seu nome aportuguesado para Luiz Cruls. Em março, foi nomeado primeiro astrônomo do Imperial Observatório do Rio de Janeiro. Em 1884, o Governo Imperial efetivou Cruls como diretor e quatro anos depois, ele foi nomeado lente catedrático de astronomia e geodésia da Escola Militar. Cruls residiu durante anos no velho prédio do observatório no Morro do Castelo. Era comum o explorador ser interrompido durante as suas pesquisas por uma visita inesperada, mas sempre muito bem-recebida: a do Imperador, que subia até a cúpula e muito humildemente batia à porta, identificando-se: “É o Pedro”. Não era na realidade, o Imperador, mas o astrônomo amador que procurava o explorador, como o fez em diversas ocasiões, ora para observar um cometa, um eclipse lunar ou até para discutir alguma nova descoberta. À frente do Observatório, Cruls realizou inúmeras tarefas, entre elas: a determinação e o fornecimento da hora certa para toda a cidade; a participação em comissões de limites (Argentina e Bolívia); a participação na comissão Exploradora do Planalto Central; a determinação de posições geográficas das cidades por onde passavam os trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II; a análise da qualidade do ar da cidade do Rio de Janeiro; a obtenção e publicação de dados meteorológicos; a criação de uma rede de estações meteorológicas pelo país; a coleta e análise de dados magnéticos; a guarda e manutenção de instrumentos geodésicos. O ano de 1882, foi de grande importância para a astronomia no Brasil, assim como para a ciência básica no século XIX. Nesta data, assistiu-se ao primeiro grande debate, no Parlamento brasileiro, sobre a importância da institucionalização da ciência como um dos objetivos políticos de um governo. Ao mesmo tempo, no Imperial Observatório do Rio de Janeiro, Cruls efetuava a segunda descoberta realizada no Brasil, de um cometa. No dia 25 de setembro, às 4 horas da manhã – relata Cruls à Academia de Ciências de Paris –, o céu no horizonte se mostrava límpido e foi possível assistir a um espetáculo de uma beleza para além de toda a expressão. A aparição da cauda do cometa acima do horizonte lembrava uma coluna de fogo refletida nas águas da baía de Guanabara. Essas observações tiveram grande repercussão internacional e o cometa foi denominado ‘cometa Cruls’. Em consequência disso, o Prêmio Valz, da Academia de Ciências de Paris, referente ao ano de 1883, foi dividido entre Cruls e o astrônomo inglês William Huggins. Os anos se passaram e Luiz Cruls viu o império se tornar República e a Constituição de 1891 ser promulgada. Naquela época, o Rio de Janeiro era a capital do país, mas já circulava a ideia de retirar o centro do poder do litoral. José Bonifácio, tutor de D. Pedro II e conhecido como “Patriarca da Independência”, era um dos defensores dessa tese. O governo queria ocupar o centro do país, cuja população era de 0,2 habitante por quilômetro quadrado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, foi apenas no governo de Floriano Peixoto, em 1892, que o Estado brasileiro se movimentou para dar início a essa mudança, designando Luiz Cruls para explorar o Planalto Central do Brasil e escolher o local exato onde seria erguida a nova capital do país. Cruls chefiou uma equipe de 21 cientistas os quais estudaram a geomorfologia, as condições climáticas e higiênicas, a natureza do terreno, a qualidade e quantidade de água etc. da área A viagem ficou conhecida como “Missão Cruls”. Foram nove meses de viagem, 5.132 quilômetros percorridos e 9.640 toneladas de bagagem. Em 1901, Cruls foi novamente designado para chefiar uma missão: a da Comissão de Limites entre o Brasil e Bolívia, encarregada de explorar as nascentes do rio Javari, que fica situado entre o Brasil, o Peru e a Bolívia. Contudo, a expedição foi tão trágica porque diversos membros da equipe faleceram na região amazônica. O próprio Luiz Cruls por pouco não morreu durante o exercício da missão que lhe havia sido atribuída. Apesar de seu estado de fraqueza e dos protestos de seus companheiros, que insistiam para que ele regressasse ao Rio de Janeiro, ele respondia que, vivo ou morto, chegaria aonde já se encontrava a comissão peruana, pois queria que o nome do Brasil fosse honrado pela comissão, da qual ele era o chefe e, por isso, ele permaneceria nela até o fim. Devido a esse espírito de patriotismo e abnegação, ao chegar ao fim da jornada, Luiz Cruls teve que ser carregado em maca em consequência do agravamento da condição de saúde Apesar disso, ele apenas iniciou o retorno após ter concluído a tarefa a que se propunha , que era a de determinar onde se encontrava a nascente do rio. As doenças contraídas durante os meses em que permaneceu naquela região levaram-no, sete anos depois, à morte. Após o seu retorno, Cruls esteve sempre muito doente. Pouco se conhece dos anos finais de sua vida. As únicas informações que há são aquelas transmitidas por Henrique Morize, seu sucessor na direção do Observatório Astronômico, e publicadas em seu livro sobre os cem anos daquela instituição. Morize relata que, entre 1902, quando Cruls reassumiu a direção do Observatório, em 1908, o explorador teve que solicitar muitas licenças de saúde. No entanto, não houve resultados. A partir de 1902, Cruls não mais pôde desempenhar plenamente as suas atividades de pesquisa e administração. Em uma última tentativa para curar-se, Cruls tirou um ano de licença para tratar da saúde e, em companhia da família, seguiu para Paris à procura de um tratamento milagroso para a malária. Como autêntico divulgador científico, além de escrever artigos para a imprensa, criou a Revista do Observatório em 1886, primeiro periódico exclusivamente dedicado às ciências editado no Brasil. Nela Cruls publicou os mapas celestes mensais que seriam reunidos no primeiro Atlas Celeste (1896). Luiz Cruls foi pesquisador e explorador completo. Além das pesquisas, sempre se dedicou à divulgação científica dentro do espírito de que devemos, sempre, justificar o que fazemos, em respeito à pátria que nos financia. Cruls recebeu as principais comendas imperiais e foi membro correspondente da Academia de Ciência de Paris, do Instituto de França e do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Cruls foi um pesquisador produtivo com mais de 50 artigos, livros e monografias publicados. No domínio da astronomia, ele foi autor de mais de 35 trabalhos, que na grande maioria, trazia como objeto as descrições das órbitas de cometas e meteoros. O amor de Cruls pelo Brasil era tão grande que aqui viveu, casou-se e teve seis filhos e quando do seu retorno , à Europa, na busca da cura de suas doenças, permanecia no convés do navio a observar o céu todas as noites. Na noite em que contemplou o Cruzeiro do Sul desaparecer no horizonte oceânico, ao voltar para a cabine, disse para sua esposa: “Tudo acabou!” Era a premonição de que não mais voltaria ao Brasil. De fato, em 21 de junho de 1908, Luiz Cruls faleceu em sua residência em Paris, de onde veio embalsamado para ser sepultado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.