Virgínia Bicudo

Virgínia Bicudo nasceu em 21 de novembro de 1910, filha de mãe italiana Giovanna e do escravo Alforriado Theóphilo Júlio. A mãe de Virgínia, Giovanna, filha mais velha de Pietro Paolo Leone e Agrippina Palermo Leone, desembarcou no Brasil, junto com a família, no porto de Santos em 1897, vindos de C...

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Detaylı Bibliyografya
Materyal Türü: Online
Baskı/Yayın Bilgisi: 2021
Online Erişim:https://canalciencia.ibict.br/historia-das-ciencias/cientista?item_id=22897
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Özet:Virgínia Bicudo nasceu em 21 de novembro de 1910, filha de mãe italiana Giovanna e do escravo Alforriado Theóphilo Júlio. A mãe de Virgínia, Giovanna, filha mais velha de Pietro Paolo Leone e Agrippina Palermo Leone, desembarcou no Brasil, junto com a família, no porto de Santos em 1897, vindos de Catania na Itália, para a fazenda de Café do Coronel Bento augusto de Almeida Bicudo. Giovanna trabalhou como babá da filha de criação do coronel Bento e lá conheceu Theóphilo Júlio, por quem se apaixonou, chamado de “escravo de dentro”, recebeu essa alcunha porque vivia dentro da casa grande e também era apadrinhado de Bento.  Casaram-se e mudaram-se para São Paulo. Giovanna e Theóphilo tiveram seis filhos, entre eles Virgínia, a segunda filha do casal. Theóphilo, pai dedicado e amoroso, trabalhou a vida inteira nos correios, porém seu sonho sempre foi a medicina, contudo não conseguiu o seu intento por causa de suas raízes. Virgínia, sempre foi muito curiosa e demonstrou desde cedo interesse pelo conhecimento. Sofreu muito preconceito, devido a sua origem. Mas, apesar do apelido de negrinha, recebido na escola e pelo preconceito sofrido devido à ascendência de escravos, e talvez como um refúgio, ela sempre tirou boas notas na escola e era uma aluna dedicada. {...} ser ótima aluna e ter nota boa é uma proteção para o negativo: negrinha é negativo, nota boa é positivo. Ser negrinho com nota boa. Virgínia, iniciou os estudos na Escola Normal Caetano de Campos, no bairro da Luz, na cidade de São Paulo. Posteriormente, em 1932, ingressou no curso de Educação Sanitária no Instituto de Higiene de São Paulo, depois de formada, trabalhou na seção de Higiene Mental Escolar do Serviço de Saúde Escolar, de onde se tornou educadora sanitária, Em 1936, ingressou no curso de graduação de Ciências Políticas e Sociais da ELSP (Escola Livre de Sociologia e Política), onde recebeu o grau de bacharela em 1939. Em 1937, ainda estudante, candidatou-se a membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da qual tornou-se membro efetivo em 1945. “Eu fui para a escola de sociologia, porque eu tinha sofrimento, tinha dor e eu queria saber o que me causava tanto sofrimento”. Virgínia foi a única mulher dentre 8 bacharéis. Nesse ínterim conheceu Durval Marcondes, fundador do movimento psicanalítico brasileiro.   No ano de 1945, entra na escola livre de sociologia para fazer mestrado em sociologia com o tema Estudo de atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo, o qual traz como objeto de pesquisa a questão das relações raciais e do preconceito presentes na nossa sociedade e também a premissa de que a cor da pele se constitui em um empecilho para ascensão social e, mais ainda configura-se uma categoria social, é um elemento impeditivo da consciência social sobre a questão racial no Brasil. “Eu me interessei muito cedo por esse lado social. Não foi por acaso que procurei psicanálise e sociologia. Veja bem o que fiz: eu fui buscar defesas científicas para o íntimo, o psíquico, para conciliar a pessoa de dentro com a de fora. Fui procurar na sociologia a explicação para questões de status social. E, na psicanálise, proteção para a expectativa de rejeição. Essa é a história” Em 1953, publicou na Revista Anhembi, o relatório:" Atitudes dos alunos dos grupos escolares em relação com a cor dos seus colegas", quando da sua participação no Projeto UNESCO coordenado por Roger Bastide e Florestan Fernandes.  Virgínia foi uma ferrenha defensora da psicanálise no Brasil, a primeira psicanalista sem formação médica, além de ter sido uma das primeiras professoras universitárias negras do Brasil. Em 1962, foi eleita presidente da segunda diretoria do Instituto de Psicanálise, função que desempenharia até 1975. Redigiu colunas sobre o assunto na imprensa, onde defendia a ideia da função social da psicanálise. Ajudou na criação da fundação da Sociedade de Psicanálise de Brasília e trabalhou também como colaboradora da Revista Brasileira de Psicanálise (RBP). Em 2004, esta revista a referenciou como sendo "uma das primeiras psicanalistas brasileiras com trânsito em publicações internacionais". Em 1970, ela inicia um grupo de estudo do qual participaram (Caiuby de Azevedo Marques Trench, Humberto Haydt de Souza Mello, Ronaldo Mendes de Oliveira Castro, Tito Nícias Rodrigues Teixeira da Silva e Luiz Meyer), e que se tornaria a primeira turma da Sociedade de Psicanálise de Brasília.  Detentora de um vasto conhecimento e querendo ampliar as fronteiras da psicanálise para além dos consultórios e desejosa de mostrar o assunto sob outro prisma: O de auxiliar pais e educadores no cuidado e atenção com a educação e o desenvolvimento emocional da criança. Virgínia, resolve, então, para concretizar esse objetivo, se utilizar dos meios de comunicação lança um programa chamado “Nosso Mundo Mental" na TV Excelsior onde cria episódios, que abordam temas do cotidiano, tais como:  mente, subconsciente, memória, agressividade, inveja culpa,  que se transformam em folhetins diários do jornal Folha da Manhã e que em 1955, comporão o livro com o mesmo nome: “Nosso Mundo Mental ". Com isso, ela se torna precursora no mundo da mídia no Brasil. Virgínia, utilizando-se dos meios de comunicação de que dispõe: rádio, jornal e revista, dá cursos, palestras, entrevistas, sempre com a finalidade de divulgar a psicanálise e a partir daí, surge uma gama enorme de matérias e publicações dela e falando sobre ela nas mídias. Em setembro de 1955, Virgínia vai estudar em Londres onde conhece vários nomes de referência na psicanálise. E o fato de estar longe do Brasil, não a impede de continuar divulgando a psicanálise aqui no Brasil. Desta forma, utiliza-se da BBC para transmitir algumas palestras  no programa “no Mundo das Ciências",  E apesar dos poucos recursos e da dificuldade enfrentada por causa do idioma, pois sabia pouco o inglês, Virgínia persiste e consegue a prorrogação da bolsa  para  continuar os estudos na Europa, onde conhece renomados nomes não só da psicanálise, como também de outras áreas de conhecimento..    Nesse contexto, ela conhece Bion que é quem a recebe em Londres e de quem vai se tornar grande amiga e leva-o várias vezes ao Brasil. Eles  mantêm então laços estreitos de amizade que perdurarão por muitos anos até a morte de Bion. Em 1959, Virgínia retorna ao Brasil, trazendo na bagagem a experiência e o conhecimento adquiridos na Europa. Em 1960, apresenta na SBPSB, o trabalho de sua autoria: “Inveja e fetichismo”. Retoma os trabalhos clínicos, iniciados anteriormente, quando de sua ida para a Inglaterra, só que dessa vez o faz no seu próprio apartamento. Após 10 anos de atividades em São Paulo, ela passa 12 anos se alternando entre São Paulo e Brasília, onde leciona na Universidade Nacional de Brasília, atual UnB e que iria abrigar a sede do Instituto Brasileiro de Psicanálise (SBPSB), e que se tornaria a Sociedade de Psicanálise de Brasília, E lá permanece por muito tempo e ajuda a formar vários estudantes na área. Retornou a São Paulo em 1980, mas continuou dando aulas em Brasília, onde permanece uma semana por mês, satisfeita com o trabalho realizado, despede-se de Brasília em 1993. Contudo continua com os atendimentos clínicos em São Paulo até 2000. Morreu em 2003.